Carta Aberta ao Novo Tempo

Eu me proclamo cidadão de um mundo distinto. Habito paisagens que abrigam a história humana, em sua profundidade no tempo. Minha “nação” é outra. Ela é constituída por territórios não contíguos. Junto a mim, muitos outros povoam seus lugares. Gente de cultura diversa e pensamento novo. Seus habitantes se respeitam como são (o que é diferente de tolerar uns aos outros), reconhecem os contatos e intercâmbios havidos na história. Comunicam-se para a construção diária do bem comum, mas não são comunistas, tão pouco capitalistas, e sim humanistas. Já perdoaram antigas guerras, cujas motivações não herdaram e nem cultuam; elas fazem parte da memória social da humanidade, por isso cheia de lições: aprendemos com essa memória, abrindo caminhos para seguirmos adiante, juntos. Essa gente vive em paz. É criativa. Nesse mundo, não há mais políticos profissionais: a política é feita por todos, para o bem comum do ambiente (cultural-natural), com respeito aos seres vivos e com responsabilidade pelas gerações (animais e vegetais) que virão. Minha “nação” vai de São Paulo a Lisboa, de Jerusalém a Cusco, de Ouro Preto a Timgad, de Óbidos a Siracusa, de Punta Arenas a Amsterdam, Palmyra, Belém, Coimbra, Évora, Brasília, entre muitas outras. Nesta “nação” não há exércitos, nem fome, nem exploração econômica, nem escravidão: a violência foi deixada no passado. A cultura em sua diversidade é o nosso patrimônio comum e vivo, como herança e transformação no tempo.


S.L.C.